Eh. eh... Eu venho fazendo concursos públicos há uns
anos. Antes disso, estudava Filosofia em uma
universidade de renome no sudeste do país. Ontem, antes
de discutir com um cidadão que me mandou um e-mail
idiótico perguntando "Por que vc escolheu essa vida de
concursado?" -- olha só o naipe da pergunta, como se
trabalhar no setor público definisse toda a existência
de alguém --, eu até que de boa vontade parei para me
questionar sobre isso. Quanto a pergunta, o cidadäo de
certo queria afirmar sua superioridade como "ser
pensante", que jamais atrelaria sua sublime existência
às demandas práticas do Estado, sobre este pobre diabo
que anda fazendo qualquer concurso que apareça e pague
mais de R$ 2.500. Foda-se. O que o pretexto de Peter Pan
esquece é que tem pais que bancam tudo e que ele não
sente o menor desconforto com isso, trata-se do clássico
caso de menino rico sem obrigações, com perspectiva de
herança e de que limpem seu rabo ainda por um bom tempo.
Mas, onde estávamos? Eh eh... Por que entrei "nessa
vida"?! (Pergunta descabida inclusive se eu trabalhasse
num lupanar. "Nessa vida"... pra que pariu!).
Eu gostaria que essa resposta fosse óbvia para minha
geraçäo, mas infelizmente romantizamos o trabalho e a
política. A resposta é simples: grana. Preciso de
dinheiro para sobreviver, e, no mais, consumir
supérfluos. MAS OHHhhh! (Você, millenial furibundo, pode
ter reagido). Sim, sobreviver e consumir supérfluos.
Esse não é o principal objetivo de minha vida, apenas a
razão para o trabalho no serviço público.
- Mas Eduardo, e quanto o BEM da sociedade?
Eu não sei até que ponto pessoas como eu são o câncer da
sociedade, mas acredito que faria bem o bastante
desempenhando minhas atribuições de maneira satisfatória
ao público e com o compromisso ético que demandam as
funçöes do Estado. É em nome de sonhos
"maravilhosos" que muita gente vem fazendo todo tipo de
merda, afinal. A gente realmente quer pensar que pessoas
como o presidente não têm um ideal. É lógico que ele
tem, e um tão ruim quanto a maioria dos outros. Ruim não
só pelo conteúdo grotesco e kitsch, mas pelo que precisa
ser feito para se ter, veja bem, a sensação de
que se está chegando lá. E aqui já seria deixa o
suficiente para que eu escreva sobre como seria ruim uma
reforma administrativa como proposta por esse
governo. Aplaudida pelos setores calhordas da
inciativa privada, entre eles, nossa mídia
terceiromundista que nos "debates" sobre o tema chama
quatro "especialistas", todos da mesma opinião, a tétrica
reforma representa risco iminente para a República. Mas
isso fica para uma outra oportunidade. Eu tenho mais o que
fazer.
As pessoas deveriam ter mais ideiais que não envolvam a
vida de desconhecidos, fora o desejo natural de que
sejam felizes et cetera.
Eis o meu ideal.
Agora, eu preciso voltar a estudar pro concurso.