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[26/09/2020] Concursos


Eh. eh... Eu venho fazendo concursos públicos há uns anos. Antes disso, estudava Filosofia em uma universidade de renome no sudeste do país. Ontem, antes de discutir com um cidadão que me mandou um e-mail idiótico perguntando "Por que vc escolheu essa vida de concursado?" -- olha só o naipe da pergunta, como se trabalhar no setor público definisse toda a existência de alguém --, eu até que de boa vontade parei para me questionar sobre isso. Quanto a pergunta, o cidadäo de certo queria afirmar sua superioridade como "ser pensante", que jamais atrelaria sua sublime existência às demandas práticas do Estado, sobre este pobre diabo que anda fazendo qualquer concurso que apareça e pague mais de R$ 2.500. Foda-se. O que o pretexto de Peter Pan esquece é que tem pais que bancam tudo e que ele não sente o menor desconforto com isso, trata-se do clássico caso de menino rico sem obrigações, com perspectiva de herança e de que limpem seu rabo ainda por um bom tempo. Mas, onde estávamos? Eh eh... Por que entrei "nessa vida"?! (Pergunta descabida inclusive se eu trabalhasse num lupanar. "Nessa vida"... pra que pariu!).

Eu gostaria que essa resposta fosse óbvia para minha geraçäo, mas infelizmente romantizamos o trabalho e a política. A resposta é simples: grana. Preciso de dinheiro para sobreviver, e, no mais, consumir supérfluos. MAS OHHhhh! (Você, millenial furibundo, pode ter reagido). Sim, sobreviver e consumir supérfluos. Esse não é o principal objetivo de minha vida, apenas a razão para o trabalho no serviço público.

- Mas Eduardo, e quanto o BEM da sociedade?

Eu não sei até que ponto pessoas como eu são o câncer da sociedade, mas acredito que faria bem o bastante desempenhando minhas atribuições de maneira satisfatória ao público e com o compromisso ético que demandam as funçöes do Estado.  É em nome de sonhos "maravilhosos" que muita gente vem fazendo todo tipo de merda, afinal. A gente realmente quer pensar que pessoas como o presidente não têm um ideal. É lógico que ele tem, e um tão ruim quanto a maioria dos outros. Ruim não só pelo conteúdo grotesco e kitsch, mas pelo que precisa ser feito para se ter, veja bem, a sensação de que se está chegando lá. E aqui já seria deixa o suficiente para que eu escreva sobre como seria ruim uma reforma administrativa como proposta por esse governo.  Aplaudida pelos setores calhordas da inciativa privada, entre eles, nossa mídia terceiromundista que nos "debates" sobre o tema chama quatro "especialistas", todos da mesma opinião, a tétrica reforma representa risco iminente para a República. Mas isso fica para uma outra oportunidade. Eu tenho mais o que fazer.

As pessoas deveriam ter mais ideiais que não envolvam a vida de desconhecidos, fora o desejo natural de que sejam felizes et cetera.

Eis o meu ideal.

Agora, eu preciso voltar a estudar pro concurso.